O hipoadrenocorticismo ou Síndrome de Addison é uma doença endócrina de baixa incidência (cerca de 1 caso para 3000 cães), dos quais 70% dos animais acometidos são fêmeas e é caracterizada pela incapacidade das glândulas adrenais em produzir quantidades adequadas de hormônios (mineralocorticóides e/ou glicocorticóides).
As glândulas adrenais são duas pequenas estruturas localizadas por cima de cada rim. Elas são responsáveis pela secreção de várias hormônios essenciais para o normal funcionamento orgânico, bem como para a sobrevivência em situações de estresse. A maioria das hormônios que elas produzem são corticosteroides. Estes corticosteróides dividem-se em dois grupos principais: mineralocorticóides (sendo o principal a aldosterona) e glucocorticoides (sendo o principal o cortisol).
Os sinais clínicos geralmente são inespecíficos, de caráter crônico e progressivo, como letargia, depressão, perda de peso, hiporexia (apetite diminuído), episódios de vômito e diarréia intermitentes, fraqueza e desidratação, que a princípio respondem razoavelmente à terapia de suporte e fluidoterapia. A inespecificidade dos sinais leva o clínico ao erro, já que a suspeita recairá sobre outras doenças mais comuns, como gastroenterites ou insuficiência renal.
Estes sinais tipicamente pioram progressivamente ou, em momentos de estresse, chegam ao ponto da ocorrência da crise adissoniana, na qual os pacientes apresentam sinais de choque moderados ou severos, evidenciados por fraqueza extrema ou coma, hematêmese (vômito com presença de sangue), hematoquezia (presença de sangue com cor vermelha viva nas fezes), hipotermia (baixa temperatura corporal), tremores, hipovolemia, tempo de preenchimento capilar prolongado, características de pulso fraco e bradicardia intensa.
No hipoadrenocorticismo, a deficiência de glicocorticóides contribui para o surgimento de alguns dos sinais clínicos, como a letargia, fraqueza e inadequada função gastrointestinal. A deficiência mineralocorticóide resulta em perda de sódio, desidratação, prejuízo da função neuromuscular e distúrbios de condução cardíaca.
As alterações mais comuns que podem ser encontradas nos exames complementares são alterações hematológicas (anemia), de eletrólitos (potássio alto, sódio baixo, cálcio alto), hipoglicemia, a urinálise revela uma urina pouco concentrada, ocorrem alterações radiográficas torácicas e alterações no eletrocardiograma.
Os pacientes em crise adissoniana têm prognóstico favorável se receberem terapia emergencial adequada, seguida de suplementação crônica adequada de glicocorticóides e mineralocorticóides e acompanhamento rotineiro do quadro clínico do animal pelo médico veterinário. Além disso, uma vez que esses cães não apresentam reserva adrenocortical, qualquer doença ou evento estressante deve ser relatado ao médico veterinário para possível aumento da quantidade de glicocorticóides.
Apesar de ser uma doença de relativa baixa ocorrência, a síndrome de Addison deve ser sempre considerada como um dos diagnósticos diferenciais de distúrbios gastrointestinais inespecíficos, como êmese, hiporexia e diarréia, por exemplo, pois a rápida intervenção do clínico permite uma melhor condução da terapia e, conseqüentemente, do prognóstico do animal. É importante lembrar que quanto antes houver a ação do médico veterinário, menores as chances da ocorrência da crise adissoniana, quadro grave que pode levar o animal a óbito dentro de algumas horas.
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